Os ferrets vêm ganhando cada vez mais espaço tanto na clínica veterinária quanto na pesquisa científica. Esses pequenos mustelídeos, domesticados há milênios, hoje são comuns como pets e também como modelos experimentais, especialmente em estudos sobre doenças respiratórias. Isso se deve ao fato de que sua fisiologia respiratória é muito semelhante à dos seres humanos, o que os torna altamente suscetíveis a doenças como a influenza, despertando grande interesse em saúde pública.
Essa susceptibilidade é tamanha que os ferrets foram fundamentais para os primeiros estudos sobre o vírus Influenza, ainda na década de 1930. Desde então, continuam sendo um dos modelos animais mais utilizados para compreender a patogenicidade do vírus, estudar sua transmissão e testar possíveis vacinas e terapias. A resposta clínica que eles apresentam é bastante parecida com a humana, o que reforça sua importância. Quando infectados, costumam desenvolver sintomas respiratórios como espirros, secreção nasal, febre e apatia. Em geral, os quadros são autolimitantes, durando de três a cinco dias, mas podem se agravar em indivíduos imunossuprimidos ou muito jovens.
Do ponto de vista clínico, a influenza nos ferrets é causada principalmente pelos vírus Influenza A e B, transmitidos por gotículas respiratórias. A transmissão pode ocorrer entre ferrets ou até mesmo entre humanos e ferrets, caracterizando uma zooantroponose. Isso significa que uma pessoa gripada pode, sim, contaminar seu animal. Por isso, é fundamental reforçar a biossegurança nos atendimentos, especialmente se o tutor ou o clínico apresentar sintomas respiratórios. O uso de equipamentos de proteção individual é altamente recomendado, já que os ferrets possuem grande afinidade pelos vírus respiratórios humanos.
Esses animais apresentam algumas particularidades anatômicas e comportamentais que favorecem o acometimento respiratório. Possuem uma traqueia longa e um volume pulmonar relativamente grande em relação ao seu peso corporal. Como estão sempre farejando o ambiente, podem inalar partículas irritantes com frequência, o que contribui para o desenvolvimento de rinites, traqueítes e outras afecções respiratórias. Por isso, o manejo ambiental adequado, com atenção à qualidade do ar e à temperatura (idealmente entre 15°C e 21°C), é essencial para prevenir doenças.
Clinicamente, o tratamento da influenza em ferrets baseia-se em medidas de suporte, com o uso de anti-inflamatórios, antipiréticos, mucolíticos e antitussígenos, quando necessário. A dipirona costuma ser uma opção segura. Em casos de infecção bacteriana secundária, o uso de antibióticos pode ser indicado. Já antivirais como o oseltamivir são usados apenas em ambientes de pesquisa, por não serem acessíveis na prática clínica e por apresentarem efeitos colaterais potenciais.
Os processos patológicos da influenza nos ferrets envolvem principalmente a destruição do epitélio respiratório superior, com descamação e inflamação da mucosa nasal, muito semelhante ao que ocorre em humanos. A regeneração do tecido costuma ser rápida, e entre seis e sete dias já é possível observar a formação de um novo epitélio.
Por fim, é importante lembrar que, além da influenza, outras doenças respiratórias e sistêmicas são comuns nesses animais. A prática clínica com ferrets exige conhecimento específico e uma abordagem cuidadosa. Considerando sua relevância tanto como pets quanto como modelo experimental, conhecer as particularidades desses animais é uma ferramenta importante para o futuro médico veterinário, especialmente no contexto das zoonoses e da saúde única.
Sobre o autor:

Prof. Délcio Magalhães é médico-veterinário, professor e autor do blog Pegada Científica, da SimbaVet. Atua nas áreas de clínica e conservação de animais silvestres, com experiência acadêmica e prática de campo.
Apaixonado por educação e pelo universo selvagem, escreve quinzenalmente para provocar reflexões e conectar ciência, prática e consciência ambiental.