Cada vez mais presentes nos lares brasileiros, os peixes betta (Betta splendens) conquistaram o status de animal de estimação. Bonitos, pequenos e aparentemente fáceis de cuidar, muitas vezes acabam sendo negligenciados quanto às suas necessidades básicas. E é aí que mora o problema: doenças em peixes ornamentais, como o betta, são frequentemente subdiagnosticadas ou mal manejadas, o que leva muitos indivíduos à morte de forma silenciosa.
Um dos problemas mais comuns é a chamada podridão das nadadeiras, um processo de necrose que atinge as bordas das barbatanas, levando à retração e ao desgaste progressivo dessas estruturas. Embora o nome seja simples, as causas por trás da doença são complexas e multifatoriais. Vão desde lesões físicas, como abrasões em superfícies ásperas, até infecções bacterianas, deficiência nutricional e, principalmente, falhas no manejo ambiental.
O tratamento da podridão das nadadeiras em peixes betta envolve basicamente duas frentes, a correção dos fatores ambientais e o uso de medicamentos. Corrigir os parâmetros da água é fundamental, e inclui a instalação de filtros adequados, realização de trocas parciais regulares (cerca de 25% a cada 3 a 4 dias), uso de condicionadores e controle rigoroso de compostos como amônia, nitrito, nitrato e pH.
Na parte medicamentosa, os antibióticos mais utilizados para combater as bactérias oportunistas envolvidas, como Aeromonas, Pseudomonas e Vibrio, incluem enrofloxacino, oxitetraciclina, sulfadimetoxina com trimetoprim e florfenicol. A escolha do antibiótico deve levar em conta o agente suspeito, a disponibilidade e a resposta clínica do animal. Anti-inflamatórios como o meloxicam ou a dexametasona também podem ser usados, especialmente em casos mais avançados ou com sinais de dor e inflamação intensa.
A via de administração dos medicamentos é uma escolha importante. A via injetável, geralmente intramuscular, tende a ser mais eficaz, pois garante a absorção direta do fármaco e evita perdas por fatores ambientais como temperatura, luz e pH da água. No entanto, exige maior habilidade técnica e cuidado com o estresse do animal. Já a administração via água é mais prática, mas menos precisa, podendo ser ineficaz em casos graves ou quando a qualidade da água interfere na estabilidade do fármaco.
O ideal é que o tratamento seja acompanhado por um médico veterinário familiarizado com medicina de peixes, que possa orientar sobre dosagens, frequência e combinações terapêuticas adequadas para cada caso.
A saúde dos peixes é reflexo direto da qualidade do ambiente em que vivem. E, nesse contexto, conhecimento técnico e manejo adequado são os principais aliados na prevenção de doenças e no sucesso do tratamento quando elas surgem.
Sobre o autor:

Prof. Délcio Magalhães é médico-veterinário, professor e autor do blog Pegada Científica, da SimbaVet. Atua nas áreas de clínica e conservação de animais silvestres, com experiência acadêmica e prática de campo.
Apaixonado por educação e pelo universo selvagem, escreve quinzenalmente para provocar reflexões e conectar ciência, prática e consciência ambiental.
