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Doença periodontal em dragões barbados: o que você precisa saber?

Cada vez mais populares como pets exóticos, os dragões barbados (Pogona vitticeps) conquistaram tutores e médicos veterinários por sua docilidade e adaptação à vida sob cuidados humanos. Esses lagartos pertencem à família Agamidae e, na natureza, têm hábitos de forrageamento e uma dieta onívora, variando ao longo do ano entre plantas fibrosas e insetos com exoesqueletos ricos em quitina. No ambiente doméstico, o ideal é oferecer folhas verdes escuras como base da alimentação vegetal e grilos ou baratas como fontes animais. No entanto, é comum que os tutores exagerem no fornecimento de frutas, legumes e larvas de tenébrio, alimentos ricos em açúcares e gorduras e pobres em fibras estruturais como a celulose e a quitina.

Esse desequilíbrio nutricional, somado à falta de suplementação adequada de minerais como o cálcio, pode predispor os dragões barbados a diversas enfermidades, entre elas a doença periodontal. A dentição dessa espécie é acrodonte, ou seja, os dentes são implantados diretamente na borda do osso mandibular, e eles não são substituídos ao longo da vida, monofiodontes. Isso os torna mais vulneráveis a problemas periodontais, especialmente quando a dieta não oferece abrasividade suficiente ou quando há distúrbios metabólicos como o hiperparatireoidismo nutricional secundário.

Diversas bactérias podem se instalar na cavidade oral desses animais, como Pseudomonas, Aeromonas, Citrobacter, Salmonella, entre outras, além de leveduras como Candida e até fungos mais graves como Nannizziopsis vriesii, causador da micose sistêmica conhecida como “fungo amarelo”. Os sintomas orais incluem salivação excessiva, mau hálito, redução ou ausência de apetite, além de prostração. Com o tempo, a infecção pode se espalhar para outros órgãos, causando complicações sistêmicas como trombose hepática, já relatada em dragões barbados.

Um dos principais desafios é que esses répteis costumam apresentar sintomas discretos, o que retarda o diagnóstico. Estudos recentes mostraram que mais da metade dos dragões barbados mantidos como pets apresentavam algum grau de doença periodontal, especialmente em animais idosos ou com doenças osteometabólicas associadas.

O tratamento é semelhante ao realizado em animais domésticos como cães e gatos, e pode incluir raspagem e polimento dentário, suporte antimicrobiano, controle da dor e correções no manejo alimentar e ambiental. O espaço bucal reduzido e os dentes inclusos tornam o procedimento mais delicado, mas o exame oral completo, radiografias e cuidados periódicos são fundamentais para garantir qualidade de vida a esses lagartos.

Ainda há muito a ser estudado sobre a saúde bucal dos agamídeos, e cada novo caso clínico é uma oportunidade de aprendizado e contribuição para o avanço da medicina veterinária de animais exóticos. Para quem pretende atuar na área, conhecer as particularidades dessas espécies é um diferencial importante.

Sobre o autor:

Prof. Délcio Magalhães é médico-veterinário, professor e autor do blog Pegada Científica, da SimbaVet. Atua nas áreas de clínica e conservação de animais silvestres, com experiência acadêmica e prática de campo.
Apaixonado por educação e pelo universo selvagem, escreve quinzenalmente para provocar reflexões e conectar ciência, prática e consciência ambiental.

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