Ao longo da história da Terra, cinco grandes extinções em massa moldaram profundamente a vida no planeta. Cada uma delas foi marcada por eventos catastróficos que eliminaram entre 70% e 95% das espécies existentes. A primeira, ocorrida há cerca de 443 milhões de anos no período Ordoviciano, foi causada por intensas glaciações que reduziram drasticamente o nível dos oceanos. A segunda, no Devoniano, por volta de 370 milhões de anos atrás, dizimou boa parte da vida marinha em decorrência de mudanças climáticas prolongadas. A terceira, no final do período Permiano há 252 milhões de anos, é considerada a mais devastadora de todas, com a extinção de mais de 90% das espécies marinhas e terrestres, provavelmente desencadeada por atividade vulcânica intensa e aumento do efeito estufa. A quarta grande extinção ocorreu há cerca de 201 milhões de anos no limite entre os períodos Triássico e Jurássico, e abriu caminho para o domínio dos dinossauros. Por fim, a extinção do Cretáceo, há 66 milhões de anos, foi provocada por um impacto de asteroide, levando ao desaparecimento dos dinossauros não-avianos e transformando radicalmente a fauna global.
Hoje, os cientistas alertam para uma possível sexta extinção em massa, que, ao contrário das anteriores, não está sendo causada por forças naturais, mas sim pela ação humana. De acordo com uma reportagem publicada pelo jornal O Globo em outubro de 2024, a população de animais selvagens diminuiu em média 73% nos últimos 50 anos. Essa perda alarmante de biodiversidade é consequência direta da destruição de habitats, das mudanças climáticas, da poluição, da introdução de espécies invasoras e da exploração excessiva de recursos naturais. A diferença fundamental desta nova onda de extinções é sua velocidade. Segundo cientistas ouvidos pelo portal Terra, estamos diante do evento de extinção em massa mais rápido da história do planeta, impulsionado por atividades humanas desde a Revolução Industrial, quando o uso de combustíveis fósseis, a urbanização e a industrialização em larga escala passaram a alterar profundamente os ecossistemas terrestres e marinhos.
Em resposta a esse cenário, a conservação da biodiversidade tornou-se uma prioridade urgente. Estratégias de conservação in situ, que protegem as espécies em seus habitats naturais, e ex situ, que envolvem o cuidado de espécies fora de seu ambiente original, como em zoológicos, bancos de sementes, herbários e centros de reprodução, têm desempenhado um papel essencial na tentativa de frear a perda acelerada de espécies. Os zoológicos modernos, longe de serem apenas espaços de exibição, atuam como centros de pesquisa, educação e reprodução de espécies ameaçadas. Herbários documentam a diversidade vegetal e servem como base para estudos de conservação e restauração de ecossistemas. Projetos específicos, como os voltados à preservação da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e da perereca-pingo-de-ouro (Brachycephalus ephippium), têm mostrado que esforços coordenados podem evitar extinções iminentes.
Ainda assim, muitas espécies não resistem. O recente desaparecimento do rinoceronte-branco-do-norte (Ceratotherium simum cottoni), que hoje só sobrevive por meio de engenharia genética e células congeladas, é um símbolo trágico do que se perde quando a conservação falha. A extinção do sapo-dourado (Incilius periglenes), endêmico da Costa Rica, também ilustra como espécies podem desaparecer silenciosamente, vítimas de desequilíbrios ambientais que passam despercebidos até que seja tarde demais.
Diante desse cenário, é preciso refletir sobre o papel da humanidade na história do planeta. Pela primeira vez, uma espécie tem o poder de não apenas modificar o ambiente, mas de decidir quais formas de vida terão a chance de continuar existindo. O futuro da biodiversidade depende das escolhas que fazemos agora. Proteger a vida selvagem não é apenas uma questão ambiental, mas um compromisso ético com as gerações futuras e com a própria sobrevivência da humanidade em um planeta equilibrado. A sexta extinção, por mais que irreversível, ainda pode ser desacelerada, desde que haja vontade política, engajamento coletivo e, sobretudo, respeito pela vida em todas as suas formas.
Sobre o autor:

Prof. Délcio Magalhães é médico-veterinário, professor e autor do blog Pegada Científica, da SimbaVet. Atua nas áreas de clínica e conservação de animais silvestres, com experiência acadêmica e prática de campo.
Apaixonado por educação e pelo universo selvagem, escreve quinzenalmente para provocar reflexões e conectar ciência, prática e consciência ambiental.